Igreja

Intereclesial emblemático.

Roberto Malvezzi (Gogó)
 
O 13º Intereclesial das CEBs tem, pelo menos, três elementos emblemáticos, como se fossem um divisor de águas entre os anteriores e o futuro das comunidades eclesiais de base.
Primeiro, ele foi realizado no Juazeiro do Norte, Ceará, nas terras do Pe. Cícero. Esse padre, influenciado por seu predecessor nas missões do sertão nordestino, Pe. Ibiapina, fez de sua vida uma radical opção pelos pobres. São das mesma linhagem os “beatos e beatas”, como Zé Lourenço, Maria Araújo e Conselheiro, pessoas que sentiram chamadas a dedicar suas vidas às populações esquecidas daquele tempo. Influenciados por Ibiapina, esses homens e mulheres fundaram suas comunidades inspirados nas primeiras comunidades citadas nos Atos dos Apóstolos.
É bom lembrar que há 150 anos, em tempos de seca, o sertão era praticamente um deserto. Foi aos famintos, sedentos, vítimas do cólera pela água contaminada, aos órfãos, que esses homens e mulheres dedicaram a plenitude de suas vidas. Por isso, para muitos, eles são os pioneiros no Brasil das atuais comunidades eclesiais de base e também da Teologia da Libertação, já que o ponto de partida eram os pobres, não como objetos de caridade, mas como sujeitos de sua história já ao final do século XIX.
Segundo, pela primeira vez um papa envia uma carta de apoio às comunidades eclesiais de base. O contentamento dos presentes era visível. Afinal, durante as últimas décadas, em grande parte do Brasil e do continente, essas comunidades foram abandonadas, quando não perseguidas e caluniadas, sobretudo por aqueles que desejam uma Igreja distante do povo e fechada em si mesma. Por isso, o povo também enviou uma carta de gratidão ao Papa.
Terceiro elemento é que não havia euforia e nem triunfalismo no Juazeiro do Norte, mesmo que tenha sido um evento grandioso, com belíssima liturgia e momentos de entusiasmo. Todos estão conscientes que, se a Igreja quer ser mesmo uma “rede de comunidades”, como diz o documento 104 da CNBB, então cabe um desafio pastoral imenso de formação das comunidades eclesiais de base, de retomada de sua organização, de apoio na formação em todos os níveis, da criação de espaços que lhes sejam próprios, liberação de pessoas, recursos e tudo mais que se faz necessário no cotidiano pastoral.
O novo é que elas sejam também missionárias, formando novas comunidades e novas lideranças. Além do mais, agora estamos em pleno século XXI, um contexto de mudança de época, com as novas tecnologias, as redes sociais, a pluralidade religiosa, pluralidade de valores, as mudanças radicais no clima do planeta, assim por diante. Esse é o desafio: como continuar tendo a inspiração originárias das primeiras comunidades num mundo em imensurável transformação?
Como será o futuro só a história dirá. Porém, quem tiver um pouco de boa vontade, pode ver aí claros sinais dos tempos. 
     Roberto Malvezzi (Gogó)
NOTA: Vejam na pagina inicial, notícias, colaboração do Padre Telmo sobre o assunto difundido pela CNBB
 
O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos
Luz do Mundo é o título pelo qual vai ser publicado o livro que recolhe as conversas de Bento XVI com o escritor e jornalista alemão Peter Seewald.
O novo trabalho, publicado em italiano pela Libreria Editrice Vaticana, lançado simultaneamente em outras línguas em 23 de novembro e tem como subtítulo O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos. Nos 18 capítulos que o compõem, agrupados em três partes - "Os sinais dos tempos", "O Papa", "para onde vamos" - Papa Bento XVI se reúne as questões mais prementes do mundo de hoje. Do livro (284 páginas, 19,50 €) antecipar alguns trechos.
A alegria do cristianismo
Toda a minha vida foi sempre atravessada por um fio, este:   o cristianismo dá alegria, alarga os horizontes. Em última análise, uma vida vivida sempre e apenas "contra" seria insuportável.
Um mendigo
Quanto ao Papa, ele é um mendigo diante de Deus, ainda mais do que os outros homens. É claro que, acima de tudo orar ao Senhor, a quem eu sou obrigado, por assim dizer, por amizade antiga. Mas eu também invocar os santos. Sou muito amigo de Agostinho, Boaventura e Tomás de Aquino. Eles, então, dizer:   "Ajude-me!" A Mãe de Deus, então, é sempre um grande ponto de referência. Neste sentido, tomo o meu lugar na Comunhão dos Santos. Juntamente com eles, reforçado por eles, eu também falo com o bom Deus, sobretudo mendigando, mas também agradecendo ou simplesmente conteúdo.
As dificuldades
Eu colocá-lo em conta. Mas acima de tudo é preciso ter muito cuidado com a avaliação de um Papa, seja significativo ou não, quando ele ainda está vivo. Somente em um momento posterior, você pode reconhecer o lugar na história como um todo, tem uma certa coisa ou pessoa. Mas isso não seria sempre alegre atmosfera era evidente em vista da atual global, com todas as forças de destruição que temos, com todas as contradições que nela vivem, com todas as ameaças e erros. Se eu tivesse continuado a receber apenas o voto, eu teria que perguntar-se verdadeiramente anunciando todo o Evangelho.
O choque do abuso
Os fatos eu não tenho uma surpresa a todos. A Congregação para a Doutrina da Fé, que eu tinha trabalhado nos casos americanos, eu também tinha visto a situação na Irlanda. Mas as dimensões eram ainda um enorme choque. Desde a minha eleição para a Cátedra de Pedro, eu tinha encontrado várias vezes com vítimas de abuso sexual. Três anos e meio atrás, em outubro de 2006, em um discurso aos bispos irlandeses pediu-lhes para "estabelecer a verdade do que aconteceu no passado, a tomar todas as medidas necessárias para evitar que ele ocorra novamente, para garantir que os princípios da justiça sejam plenamente respeitados e, acima de tudo, para trazer a cura para as vítimas e todos os afetados por esses crimes. " Veja o sacerdócio de repente manchada desta forma, e com ela a própria Igreja Católica, foi difícil de suportar. Naquele momento, no entanto, foi importante para não desviar o olhar do fato de que o bem existe na Igreja, e não só essas coisas terríveis.
Os meios de comunicação eo abuso
Era evidente que a ação da mídia não era guiada somente pela pura busca da verdade, mas que também foi um prazer para envergonhar a Igreja e, se possível, para desacreditá-lo. E, no entanto, era necessário que esta seja clara:   enquanto você é trazer à tona a verdade, devemos ser gratos. A verdade, combinado com um amor bem entendida, é o valor número um. E a mídia não poderia dar essas contas na própria Igreja, se não fosse para o mal. Só porque o mal estava dentro da Igreja, os outros foram capazes de mantê-lo contra ela.
O progresso
O que emerge é o problema do termo "progresso". Modernidade buscou seu próprio caminho guiado pela ideia de progresso e de liberdade. Mas o que é progresso? Hoje vemos que o progresso pode ser também destrutivo. Portanto, devemos refletir sobre os critérios para que o progresso pode realmente progredir.
Um exame de consciência
Além dos planos financeiros individuais, um exame global da consciência é absolutamente inevitável. E neste, a Igreja tem procurado contribuir na encíclica Caritas in Veritate. Ele não dá respostas para todos os problemas. Quer ser um passo adiante para olhar as coisas de um outro ponto de vista, não é só o de viabilidade e sucesso, mas do ponto de vista de que existe um padrão de amor ao próximo, que é orientada para a vontade de Deus, não só para os nossos desejos. Neste sentido, deve ser dada por uma verdadeira transformação das consciências.
A verdadeira intolerância
A verdadeira ameaça diante da qual nos encontramos é que a tolerância seja abolida em nome da própria tolerância. Existe o perigo de que o motivo da chamada razão ocidental, afirma ter finalmente reconhecido o que é certo e desta forma fazer uma reclamação a totalidade que é inimiga da liberdade. Devo denunciar fortemente esta ameaça. Ninguém está ostretto ser cristão. Mas ninguém deve ser forçado a viver segundo a "nova religião", como se fosse o único e verdadeiro, obrigatória para toda a humanidade.
Mesquitas e burcas
Os cristãos são tolerantes e, como tal, também permitir que outros a sua auto-compreensão única. Congratulamo-nos com o fato de que os países do Golfo Árabe (Qatar, Abu Dhabi, Dubai, Quwait), há igrejas nas quais os cristãos podem celebrar a Missa e esperamos que isso pode acontecer em todos os lugares. Por isso, é natural que os muçulmanos podem se reunir para rezar nas mesquitas.
Quanto à burca, não vejo razão para uma proibição geral. Diz-se que algumas mulheres não usá-lo voluntariamente, mas que na realidade é um tipo de violência que lhes são impostas. É claro que, com isso, não podemos concordar. Mas se eles querem usá-la voluntariamente, não vejo por que eles deveriam ser evitados.
O cristianismo ea modernidade
Ser cristão é em si algo vivo, moderno, cruzamento, formando e moldando-o, toda a minha modernidade, e, portanto, em um sentido verdadeiramente abraça-lo.
Aqui você precisa de uma grande luta espiritual, como eu queria mostrar com a recente criação de um "Conselho Pontifício para a Nova Evangelização". É importante que tentemos viver e pensar o cristianismo de tal forma que assume o bem moderno e bom, e depois para as mesmas distâncias de tempo e pode ser distinguido do que está se tornando uma contra-religião.
Otimismo
Você pode pensar olhando superficialmente e estreitar o horizonte só para o mundo ocidental. Mas se você olhar com mais cuidado - e isso é o que eu posso fazer graças às visitas dos bispos de todo o mundo   e   também   para   muitas   outras  reuniões   -   você   pode ver que o cristianismo neste momento está também a desenvolver um totalmente novo de criatividade [. ..]
A burocracia está cansado e desgastado. Estas iniciativas vêm de dentro, a partir da alegria da juventude. O cristianismo provavelmente terá uma nova cara, talvez até mesmo uma aparência cultural diferente. O cristianismo não levar a opinião pública mundial, outros estão dirigindo. E ainda assim o cristianismo é a força vital sem a qual as outras coisas não poderiam continuar a existir. Portanto, com base no que vejo e onde eu possa experimentar pessoalmente, estou muito otimista sobre o fato de que o cristianismo está enfrentando uma nova dinâmica.
A droga
Muitos bispos, especialmente os da América Latina, diga-me onde a estrada passa o cultivo eo comércio de drogas - e isso acontece na maioria dos países - é como se um animal monstruoso e mal estendendo sua mão em que país para destruir as pessoas. Eu acho que esse comércio e consumo de drogas que envolve o mundo cobra é uma força que não pode sempre fazer-nos uma idéia adequada. Destrói os jovens, destrói as famílias, leva à violência e ameaça o futuro de nações inteiras.
Novamente, essa é uma terrível responsabilidade do Ocidente:   as necessidades de drogas e, assim, cria países que lhe fornecem o que vai acabar consumindo e destruindo. É uma espécie de fome de felicidade que não pode ser saciada com o que está lá, e que se refugia no paraíso do diabo, por assim dizer, e destrói completamente o homem.
Na vinha do Senhor
Na verdade eu tinha um papel de liderança, mas eu nunca fiz nada sozinho e eu sempre trabalhei em equipe, como um dos muitos trabalhadores na vinha do Senhor, que provavelmente fez o trabalho preparatório, mas ao mesmo tempo é aquela que não é feita para ser o primeiro e assumir a responsabilidade por tudo. Percebi que, ao lado do grande Papas Papas pequeno que também deve dar a sua contribuição. Então, naquela época eu disse o que eu realmente senti [...]
O Concílio Vaticano II ensinou-nos, com razão, que a estrutura da Igreja é a colegialidade, ou o fato de que o Papa é o primeiro na partilha e não um monarca absoluto, que toma decisões sozinho e faz tudo por si só.
Judaísmo
Sem dúvida. Devo dizer que desde o primeiro dia dos meus estudos teológicos eu estava de alguma forma clara a profunda unidade entre o Antigo eo Novo Testamento, entre as duas partes da nossa Sagrada Escritura. Eu percebi que poderíamos ler o Novo Testamento apenas em conjunto com o que o precedeu, caso contrário, não iria entender. Então é claro que o que aconteceu no Terceiro Reich atingiu-nos como alemães e tanto mais levou-nos a olhar para o povo de Israel com humildade, vergonha e amor.
Na minha formação teológica essas coisas estão interligadas e marcaram o caminho do meu pensamento teológico. Então, ficou claro para mim - e mesmo aqui em continuidade absoluta com João Paulo II - que, no meu anúncio da fé cristã seria fundamental para esta nova trama, amoroso e compreensivo, Israel ea Igreja, com base no respeito ao modo de ser de cada um e respectiva missão [...]
No entanto, naquele momento, mesmo na antiga liturgia pareceu-me necessário uma mudança. Na verdade, a fórmula foi que realmente machucar os judeus e certamente não expressa de forma positiva a grande, profunda unidade entre o Antigo eo Novo Testamento.
Por esta razão, eu pensei que a antiga liturgia a mudança é necessária, em particular, como eu disse, em referência ao nosso relacionamento com nossos amigos judeus. Eu modifiquei-lo para que ele continha a nossa fé: que Cristo é a salvação para todos. Que não existem duas formas de salvação, e que, portanto, também Cristo é o salvador dos judeus, e não apenas os pagãos. Mas, mesmo de tal forma que um não orar diretamente para a conversão dos judeus em um sentido missionário, mas porque o Senhor apresse o momento histórico em que todos estarão unidos. Por esta razão, os argumentos usados ​​por uma série de teólogos polemicamente contra mim são irresponsáveis ​​e não fazem justiça ao que foi feito. 
Pio XII
Pio XII fez todo o possível para salvar as pessoas. Claro, sempre se pode perguntar:   "Por que não protestou de maneira mais explícita?" Eu acho que ele entendeu o que seriam as consequências de um protesto público. Sabemos que esta situação pessoalmente sofreu muito. Ele sabia que teria que falar, mas a situação impediu.
Agora, as pessoas mais razoável admitir que Pio XII salvou muitas vidas, mas argumentam que tinha ideias antiquadas sobre os judeus e que foi até o Concílio Vaticano II. O problema no entanto, que não é. O importante é o que ele fez eo que ele tentou fazer, e eu acho que você realmente precisa reconhecer que ele foi um dos grandes justos, e que, como nenhum outro, salvou muitos, muitos judeus.
Sexualidade
Concentrar-se apenas no preservativo significa banalizar a sexualidade e esta banalização representa precisamente o motivo perigoso por muitas, muitas pessoas deixaram de ver na sexualidade a expressão do seu amor, mas apenas uma espécie de droga, que é administrado por si só. Por que a luta contra a banalização da sexualidade é parte do grande esforço para que a sexualidade seja valorizada positivamente e possa exercer o seu efeito positivo sobre o ser humano em sua totalidade.
Pode haver casos individuais justificados, por exemplo, quando uma prostituta usa um preservativo, e este pode ser o primeiro passo para uma moralização, um primeiro ato de responsabilidade para desenvolver de novo a consciência de que nem tudo é permitido e que não se pode fazer o que quiser. No entanto, esta não é a forma real para vencer a infecção do HIV. Você realmente precisa de uma humanização da sexualidade.
A Igreja
Paulo não vê a Igreja como instituição, como organização, mas como um organismo vivo, em que todos trabalham para o outro e com o outro, estar unido a Cristo. É uma imagem, mas uma imagem que tem profundidade e que é muito realista se apenas para o fato de que nós realmente acreditamos que, na Eucaristia recebemos Cristo, o Ressuscitado. E se todos recebem o mesmo Cristo, então realmente estamos todos unidos neste novo corpo ressuscitado como o grande espaço de uma nova humanidade. É importante entender isso, e, portanto, não entendem a Igreja como um aparato que deve fazer tudo - o aparelho também pertencem a ele, mas dentro de limites -, mas como um organismo vivo que vem do próprio Cristo.
Humanae Vitae
A perspectiva da "Humanae Vitae" permanecem válidas, mas outra coisa é encontrar formas humanamente possíveis. Eu acho que sempre haverá minorias que estão profundamente convencidos da justeza dessas perspectivas e que, vivendo-as, de modo totalmente recompensados ​​se tornará para outros um fascinante modelo a seguir. Somos pecadores. Mas não devemos tomar isso como prova contra a verdade, quando o elevado padrão moral não é cumprida. Devemos tentar fazer tanto bem quanto possível, e manter e apoiar uns aos outros. Expressar tudo isso do ponto de vista pastoral, teológico e conceitual no contexto da sexologia e pesquisa antropológica é uma grande tarefa para a qual devemos dedicar mais e melhor.
Mulheres
A formulação de João Paulo II é muito importante:   "A Igreja não tem de forma alguma o poder de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres." Não se trata de não querer, mas não pode. O Senhor deu uma forma à Igreja com Doze e depois com a sua sucessão, com os bispos e presbíteros (sacerdotes). Não fomos nós que criou esta forma da Igreja, mas é constitutiva Siga-Dele é um ato de obediência, na situação de hoje, talvez um dos mais difíceis atos de obediência. Mas isso é importante, que a Igreja não mostram um regime arbitrário. Nós não podemos fazer o que queremos. Em vez disso, há uma vontade do Senhor para nós, à qual aderimos, mesmo que seja cansativo e difícil na cultura e na civilização de hoje.
Entre outras coisas, as funções confiadas às mulheres na Igreja são tão grandes e significativas que não se pode falar de discriminação. Seria assim se o sacerdócio fosse uma espécie de dominação, enquanto o oposto deve ser o serviço completo.Se você der uma olhada na história da Igreja, então percebemos que o significado das mulheres - de Maria a Mônica até a Madre Teresa de Calcutá - é tão proeminente que, em muitos aspectos as mulheres definem o rosto da Igreja mais do que os homens.
As últimas coisas
É um assunto muito sério. A nossa pregação, o nosso anúncio está em vigor amplamente orientado, de forma unilateral, à criação de um mundo melhor, enquanto o mundo realmente melhor quase não é mais mencionado. Aqui devemos fazer um exame de consciência. Claro, ele tenta atender o público, para dizer-lhes o que está em seu horizonte. Mas nossa tarefa é romper esse, ao mesmo tempo, estendê-lo, e olhar para as coisas passadas.
As últimas coisas são como pão duro para as pessoas de hoje. O parecer irreal. Eles gostariam que o seu lugar respostas concretas para o hoje, soluções para as tribulações cotidianas. Mas estas são respostas que em metade se não também permitir e reconhecer que eu estendo para além desta vida material, que não há julgamento, e que há uma Graça e Eternidade. Nesse sentido, temos de encontrar assim palavras e novas formas, para permitir ao homem quebrar a barreira do som fazer mais.
 
(© L'Osservatore Romano - 21 de Novembro de 2010)
O livro sai em 23 de novembro, com a entrevista concedida pelo Papa Bento XVI Peter Seewald
 

Um grande Profeta por Arsénio Pires

UM GRANDE PROFETA 
Buscando um tema que pudesse ser adequado para partilhar com vocês, nossos colegas do Brasil, encontrava-me num deserto: nem uma palmeira para descansar à sua sombra.
Mas eis que, abrindo o jornal do dia 31 de Agosto, me deparei com a triste notícia da morte do grande cardeal Carlo Maria Martini, ex-arcebispo de Milão, eminente intelectual e especialista da Bíblia, os dos mais falados “candidatos” à sucessão de João Paulo II.
No “Correo della Sera” foi divulgada a sua última entrevista dada pouco antes de falecer.
Nela, o cardeal dizia: “A Igreja está cansada… e os nossos lugares de oração estão vazios”. (…)"A nossa cultura envelheceu, as nossas igrejas são grandes e estão vazias e a burocracia aumenta, os nossos ritos religiosos e as vestes que usamos são pomposos."
Considerava a Igreja ocidental cansada e paralisada pela burocracia e pelo bem-estar, mais preocupada como os sinais exteriores do que com abrir a Boa Nova aos que dela necessitam, não seguindo, nisso, o exemplo do Senhor Jesus de Nazaré.
Comparando esta Igreja ocidental à “outra” Igreja próxima dos pobres de monsenhor Óscar Romero e dos mártires de El salvador, perguntava:“Onde estão, entre nós, os heróis em que possamos inspirar-nos?”
Na entrevista agora publicada, o cardeal disse ainda que, a menos que a Igreja adopte uma atitude mais acolhedora em relação às pessoas divorciadas, ela perderá as futuras gerações. A questão, acrescentava, não é se os casais divorciados podem receber a comunhão na missa, mas, sim, saber como a Igreja pode ajudar as pessoas em situações familiares complexas.
Confessando, entristecido, que a Igreja está atrasada 200 anos, disse:
“ A Igreja deve reconhecer os seus erros e escolher um caminho de mudança, a começar pelo Papa e pelos bispos”.
O cardeal Martini sempre defendeu uma atitude da Igreja mais aberta e compreensiva para com o mundo contemporâneo. Num dos seus últimos livros, "Colóquios Nocturnos em Jerusalém", diz: "Sim, desejo uma Igreja aberta, uma Igreja cujas portas estejam abertas à juventude, uma Igreja com horizontes vastos. A Igreja não se tornará atraente por adaptações ou por ofertas tíbias. Eu confio na palavra radical de Jesus, nessa palavra que temos que traduzir para o nosso mundo como ajuda para a vida, como Boa Nova que Jesus quer trazer."
E perguntava naquela sua última entrevista: “A Igreja ainda é uma autoridade de referência ou é somente uma caricatura nos meios de comunicação social?”
Habitou, entre nós, um grande profeta. E profeta é, literalmente, “aquele que fale em nome de outro”. Carlo Martini foi a voz de Senhor Jesus de Nazaré. A Voz de Deus.
Com a sua morte ficámos ainda mais pobres!
 
Autor:Arsénio Pires
E-Mail:arseniopires@gmail.com
Data de Criação : 2012-09-04
 
A MISERICÓRDIA DE DEUS E O HOMEM PECADOR
Ao admitir que os seres humanos, antes do processo civilizatório, experimentaram os sofrimentos do estado de natureza e viveram por séculos mergulhados em guerras e conflitos, onde suas vidas eram “curtas, sórdidas e embrutecidas” (HOBBES, 1983), CERTIFICA-SE QUE:
a) milhares de instituições organizaram saberes com o intuito de regimentar os direitos naturais em direitos civis, evitando os conflitos sociais de todas as naturezas;
b) após o entendimento e a sensibilidade de pesquisadores engajados nas ciências humanas e sociais, novos métodos comportamentalistas foram criados, de forma a facilitar a compreensão e aceitação da moral provisória instituída pela nova sociedade civil;
c) com a existência do Estado e com as definições de suas formas de soberania, em muitas nações, houve lugar especial para o culto religioso. E, com a excelência da religiosidade, pode-se dizer que o Cristianismo trouxe à luz um novo tempo, veio com ele a chave de ouro bíblica: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vos a eles. Esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7,12); 
d) com a Pedagogia Cristológica, a Igreja Católica colocou em prática os sacramentos instituídos por Jesus Cristo. Com grande eficácia, os participantes ativos se aproximam da graça divina. O confessando, num gesto de pura humildade, esvazia o peso de sua consciência moral, narrando em voz alta os erros por ele cometidos. O confessor, ordenado pela bondade infinita de Deus, usa da misericórdia do Senhor e perdoa os pecados;
e) a misericórdia divina é grandiosa e redentora para perdoar e salvar todos aqueles que erraram por pensamentos, palavras e obras maledicentes.
        Aprendemos com os bons confessores e neste texto quero prestar uma fervorosa homenagem ao padre Hélio Libardi, CSSR, que com sabedoria nos ensinou que: o cristão que vive em bom estado de oração, comunhão, esmola e outras asceses religiosas, este dificilmente cai em pecado grave. Neste caso, quando precisar buscar um sacerdote para se confessar, pode dizer a ele que veio “solicitar a renovação do perdão de seus pecados”, pois no período em que está vivendo, após a última confissão, este tem convicção de consciência que não se afastou da comunhão com a sua Igreja. Afastar-se da comunhão com a Igreja é pecar. O pecado consiste em matar, explorar, excluir, diminuir, afastar o outro de seus direitos individuais e coletivos. Para este padre, DEUS NOS QUER SEMPRE BEM NA MEDIDA EM QUE O BUSCAMOS.
        A excelência da vivência cristã, não importa o lugar, o tempo e a idade, é um processo de transformação que a pessoa experimenta gradativamente e que a conduz para o lugar da conversão. Para Santo Agostino, o amor habita somente naquilo que existe. Para ele, ninguém poderá existir sem amar. Amar implica em buscar o objeto do amor e, para isto, é preciso verificar que amar implica em escolher, logo a escolha que o ser humano faz é querer muito bem a existência.  O ser humano para ser feliz precisa que ame o mundo e a sua existência. Quem ama a existência quer ter uma vida longa e este tempo, esta longevidade, exige que a pessoa procure a conversão. Converter-se implica em uma mudança total de vida. Aquele que se converte, muda os modos de vestir-se, de falar, de agir, passando por três estágios fundamentais: a busca incessante de conhecimentos; a criação e desenvolvimentos de hábitos bons; a tomada de atitudes. Se as mudanças existem na vida daquele que se converte, isto não é por acaso, pois Deus providencia tudo para que as mudanças ocorram. O amor é o ponto central ao qual o homem se dirige para garantir a sua própria existência. Se assim não o fosse, viveríamos imersos na solidão e no egoísmo e, conseqüentemente, assistiríamos o fim da epopéia humana sobre a terra, pois as pessoas não se uniriam às outras, garantindo, desse modo, por exemplo, a procriação e a sobrevivência da própria espécie. Entre o amor e o ser existe uma reciprocidade. O amor é envolvido e abrangido pelo ser. Se isto acontece conosco que somos seres mortais, imagina o quanto é grandioso o amor de Deus para conosco, pois ele é o puro amor e misericórdia.
ABBAGNANO, Nicola. Santo Agostinho. In: História da Filosofia. Trad. Antônio Borges Coelho. Vol. II. Lisboa: Editorial Presença, 1969. pp. 197-225.
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Trad. J. Oliveira Santos e Ambrósio de Pina. São Paulo: Abril, 1973. [Os Pensadores].
HOBBES,  Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Tradução de João Paulo Monteiro e Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Abril Cultural, 1983.
Autor:Afonso de Sousa Cavalcanti – Ex-seminarista redentorista 
E-Mail:afonsoc3@hotmail.com 
Data de Criação : 2011-08-21
Igreja e Seminário São Geraldo Majella
A Congregação do Santíssimo Redentor (C.Ss.R) chegará à Sorocaba, SP, através da Igreja e do Seminário São Geraldo Majella. No decorrer do ano de 2011, estão sendo construídos o Seminário e a Igreja, com perspectivas para o início das suas atividades em janeiro de 2012. O local escolhido para a edificação: uma área de 5.460 m², localizada na esquina da Avenida Manoel de Camargo Sampaio com a Rua Henrique Carrara Amaral Rogick, em Lopes de Oliveira, região norte da cidade. 
                O prédio da igreja, com capacidade para acolher cerca de 600 pessoas, terá Celebrações Eucarísticas diárias, Novena Perpétua, às quartas-feiras, dedica a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, atendimento pastoral pelos sacerdotes (aconselhamentos e confissões), além da presença de religiosos e seminaristas nas atividades, junto às comunidades e pastorais da Paróquia São Luiz Gonzaga, na Vila Barão. Outras atividades ainda poderão ser desenvolvidas, conforme as necessidades e planejamentos pastorais que a realidade paroquial, arquidiocesana e comunitária indicarem.
                O Seminário São Geraldo Majella acolherá os futuros Missionários Redentoristas que escolheram a vocação à Vida Religiosa e se preparam para serem Irmãos Redentoristas. As atividades dos Irmãos, além das obrigações religiosas, podem ser técnicas ou profissionais em diversas áreas, conforme as aptidões de cada um, mas principalmente levando em conta o Carisma da Congregação Redentorista. Por isso, a escolha da cidade de Sorocaba, como um centro urbano desenvolvido, com várias opções para a formação técnica, profissional e universitária.
                A Congregação do Santíssimo Redentor está presente na Arquidiocese de Sorocaba desde 1936, na cidade de Tietê, quando deu-se o início do Seminário Santa Teresinha, onde os Redentoristas cursavam Filosofia e Teologia. No ano de 1966, essa casa de formação mudou a finalidade e passou a acolher o Noviciado Redentorista. Poucos anos depois, mudou novamente para acolher o seminário menor. Desde 1985, funciona nessa casa o Noviciado Redentorista Santa Teresinha. Além de ser uma casa de formação, no Seminário reside uma Comunidade Religiosa, que atua na Igreja Santa Teresinha e uma Equipe Missionária, que se dedica à pregação das Missões Populares.
                Os Redentoristas encontraram em Tietê e região um rico seleiro de vocações sacerdotais e religiosas. Hoje, somam mais de 50 Missionários nascidos nessas terras: Tietê, Cerquilho, Sorocaba, Porto Feliz, Piracicaba, Tatuí.
                Nos primórdios do Seminário Maior de Tietê, inúmeros sacerdotes redentoristas foram ordenados pelo bispo diocesano de Sorocaba, Dom José Carlos de Aguirre, que ficou conhecido como o bispo que com mais idade e que por mais tempo governou uma diocese. Também foi o que mais ordenou sacerdotes: foram 48 padres seculares e 230 religiosos, totalizando 278.                 
História resumida de São Geraldo Majella
Nasceu em 1726, em Muro Lucano, no sul da Itália. Sua mãe, Benedita, uma mulher piedosa, o fez conhecedor do amor infinito e misericordioso de Deus. Geraldo sentia-se feliz porque estava junto de Deus. Quando estava com doze anos, seu pai veio a falecer e ainda menino Geraldo se tornou o apoio da família, sua mãe e duas irmãs.
Entrou como aprendiz de alfaiate. Depois de quatro anos de aprendizagem e justamente no momento em que podia começar a trabalhar como alfaiate, disse que ia trabalhar como criado do bispo de Lacedônia. Os amigos o aconselharam que não aceitasse esse trabalho, mas não foi suficiente fazer Geraldo desistir. Durante três anos se ocupou de tudo e permaneceu nesse trabalho até a morte do bispo.
Geraldo Majella acreditou sempre na vontade de Deus. Por isso, aceitou até maus tratos do alfaiate, seu patrão. Aquelas dificuldades não importavam para ele. Via o sofrimento como parte integrante do sofrimento de Cristo. “Sua Excelência me quer bem”, dizia. Desde então, Geraldo passava longas horas diante do Santíssimo Sacramento, o mistério do Senhor crucificado e ressuscitado.
Em 1745, aos 19 anos, voltou para Muro, sua terra natal, onde começou a exercer por conta própria o ofício de alfaiate. O negócio ia bem, mas ele não juntou muito dinheiro. Praticamente, ele doava tudo o que recebia. Punha à parte o necessário para a mãe e as irmãs. O restante dava aos pobres, ou simplesmente usava para mandar celebrar missas para as almas do purgatório.
Não houve uma súbita nem uma conversão espetacular em Geraldo. Foi um processo normal e constante de um crescimento no amor de Deus. Na Quaresma de 1747, decidiu se assemelhar o mais possível a Jesus Cristo. Entregou-se às penitências mais severas e procurou as humilhações, passando por louco e estando contente de que os outros se rissem dele.
Quis servir totalmente o Senhor e pediu para ser capuchinho, mas não foi aceito. A principal razão era por ser arrimo familiar. Aos 21 anos, tentou viver uma vida eremita. Desejava chegar a assemelhar-se inteiramente a Cristo, até o ponto de aceitar com alegria o ser protagonista da Paixão, como imagem viva de Cristo, na Catedral de Muro. Conheceu os Missionários Redentoristas e pediu para entrar entre eles. Mas recebeu uma recusa, pela mesma razão anterior e por causa do seu estado precário de saúde. Porém, continuou insistindo, até que o Padre Paulo Cáfaro o aceitou, enviando-o para o noviciado em Lliceto, em 1749, com um bilhete no qual dizia: “Eu envio um irmão inútil”.
Geraldo Majella se tornou Irmão Redentorista em Lliceto, no dia 16 de julho de 1752. Ali desmentiu muito depressa que seria um ‘inútil’ por seu serviço excelente como porteiro, alfaiate e sacristão. O prognóstico foi feito pelo Padre Cáfaro sobre ele. Ganhou fama de santidade que um grande número de pessoas procurava para tê-lo como guia espiritual na vida.
O Irmão Geraldo Majella morreu aos 29 anos de idade em Materdomini, Itália, no dia e na hora que ele tinha predito: 16 de outubro de 1755, consumido pelas suas severidades e pela tuberculose. Foi beatificado por Leão XIII no dia 29 de janeiro de 1893 e canonizado por Pio X no dia 11 de dezembro de 1904. Muitos católicos o veneram no mundo inteiro como o patrono especial das mães, das grávidas e das criancinhas.           
História do Seminário São Geraldo Majella
                Antes de chegar a Sorocaba, o Seminário Redentorista São Geraldo já tem algumas décadas de história. Dia 2 de agosto de 1956, foi a data marcada para a bênção e inauguração do novo berço da Unidade Redentorista de São Paulo: a casa destinada à formação dos futuros Irmãos Coadjutores. Essa casa foi batizada com o nome de Geraldinato. 
                O local escolhido para a fundação: bairro do Potim, distante 4.200 (metros) do centro de Aparecida, antiga fazenda Jataí, atualmente, fazenda São Geraldo. Essa fazenda foi adquirida pela Comunidade Redentorista de Aparecida em outubro de 1953, sendo Reitor o Revmo. Pe. Antão Jorge, Provincial o Revmo. Pe. Antônio Macedo e Procurador (ecônomo da Província) o Revmo. Pe. Juvenal Martins. A finalidade era o Convento Redentorista de Aparecida possuir uma casa de descanso.
                Quando assumiu como Provincial, o Pe. José Ribolla trouxe a idéia novamente de fundar uma casa para os irmãos. Diz-se novamente, porque essa idéia fora ventilada há muitos anos. A primeira tentativa dessa fundação: 1946, no Juvenato de Pinheiro Marcado, RS, transferindo-se logo após o início para Ijuí, RS, sob a orientação do Pe. Afonso Rambeck. A segunda foi em 1949, no Juvenato de Campinas, GO, sendo diretor o Pe. Artur Bonotti. Essa Idéia não prosperou.
                Ressurgida a idéia, discutiu-se muito sobre o local. Uns Redentoristas opinavam que deveria estar junto a uma outra casa de formação. Outros, por exemplo, o Pe. Humberto Pieroni, o ressuscitador da idéia de fundar o Geraldinato, pensaram que deveria formar uma comunidade completamente à parte, para se ter uma formação como a do Juvenato, num ambiente próprio, e não ainda de vida religiosa propriamente dita. Até esse momento, os moços que entravam para a Vida Religiosa residiam, normalmente, no Convento Redentorista da Penha, São Paulo, ou Pindamonhangaba, onde havia a casa de noviciado, mas eram quase sempre abandonados no que se refere à formação religiosa e mesmo profissional.
                No ato solene da inauguração, no dia 2 de agosto de 1956, estavam presentes o Pe. Provincial, o Reitor do convento de Aparecida, o Reitor do Seminário Maior de Tietê, o mestre do Noviciado dos Irmãos, os Irmãos noviços, os 6 primeiros geraldinos e os juvenistas (SRSA) com os professores e a comunidade de Aparecida. O Pe. Ribolla oficializou a cerimônia religiosa, com a bênção à casa e às máquinas agrícolas. Dirigindo-se aos presentes, expressou o júbilo da Província Redentorista de São Paulo e frisou a finalidade daquela obra nascente: preparar os jovens que desejam auxiliar os Missionários Redentoristas, por sua vida de oração e trabalho como Irmãos Coadjutores. Essa preparação deverá ser, afirmou ele, intelectual, técnica e religiosa.
                Logo depois da bênção e inauguração do seminário, deu-se a abertura das suas atividades, no dia 24 de setembro de 1956, com a presença do Diretor Pe. Humberto Pieroni, do Pe. Geraldo Bonotti, professor e diretor espiritual, e mais 6 alunos. À noite daquele dia 24 de setembro, no terraço, os dois padres e os seminaristas rezaram o primeiro terço em comunidade, voltados para a Colina onde se encontra a Basílica Velha de Nossa Senhora Aparecida.      
História resumida dos Missionários Redentoristas
                A Congregação do Santíssimo Redentor teve início no dia 9 de novembro de 1732, em Scala, Reino de Nápolis, sul da Itália. O fundador é Santo Afonso Maria de Ligório, que se compadecendo pela situação dos pobres e abandonados ao seu redor, quis fundar uma família religiosa missionária para dedicar-se de modo exclusivo, anunciando lhes a Copiosa Redenção. Um dos textos bíblicos que iluminou Santo Afonso é Lucas 4, 16 a 20, onde temos: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para evangelizar os pobres, mandou-me anunciar aos cativos a libertação, aos cegos a recuperação da vista, por em liberdade os oprimidos e proclamar um ano de graça do Senhor”.
                Santo Afonso foi o primeiro filho de uma família nobre no Reino de Nápolis. De inteligência privilegiada, e para o orgulho do pai, recebeu uma formação intelectual rigorosa. Aos 16 anos, formou-se em direito civil e canônico. Teve uma carreira brilhante como advogado, até que um dia perdeu uma causa por corrupção no Tribunal. Decepcionado, resolveu abandonar a carreira e, contrariando a vontade do pai, pode realizar o seu desejo de se consagrar a Deus. Foi ordenado sacerdote. Em sua época, havia muitos padres na cidade de Nápolis. Porém, Santo Afonso se distinguiu no zelo apostólico e foi ao encontro dos mais abandonados e pobres.
Exausto pelas atividades, foi descansar nas montanhas de Scala, quando se deparou com a realidade de pobreza ainda maior daqueles que viviam longe da cidade, cuidando de ovelhas e cabras. Eram pessoas em situação de extrema pobreza e passavam seus dias na ignorância das coisas de Deus e dos homens. Eram abandonadas e marginalizadas pelo Estado e pela Igreja.
São Geraldo Majella e muitos outros missionários uniram-se à causa que Santo Afonso abraçou para continuar a Obra da Redenção. Um deles foi o Missionário Redentorista São Clemente Maria Hofbauer. Sua importância se dá ao fato de levar a Congregação do Santíssimo Redentor do sul da Itália para a região norte da Europa. Nessa região a Congregação se desenvolveu, atraiu muitas vocações e pode enviar Missionários para outras terras e continentes, chegando, inclusive ao Brasil.  
Os Redentoristas no Brasil
                Em 1893, chegou ao Rio de Janeiro e Juiz de Fora, MG, a primeira comunidade de Redentoristas, vinda da Holanda. Até hoje, os Redentoristas continuam a história dessa fundação, que se expandiu nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e região do Nordeste Brasileiro.
                Aos 28 de outubro de 1894, chegou outro grupo de Redentoristas, vindos da Alemanha, para assumir os trabalhos em Aparecida, SP e Trindade, GO. Essa fundação foi se estabelecendo, iniciou em 1898, o Seminário Redentorista Santo Afonso em Aparecida, começou a pregar as Santas Missões Populares e fundar outras comunidades em São Paulo e no interior do Estado, como Araraquara no ano de 1920, Tietê em 1936, São João da Boa Vista em 1939. Também nos estados de Goiás e do Rio Grande do Sul essa fundação Redentorista, de origem alemã, foi se ramificando e frutificando, até os nossos dias.             
                Posteriormente, outras Missões Redentoristas surgiram no Brasil, através de missionários vindos dos Estados Unidos, da Irlanda, da Polônia e da Bélgica. Hoje, os Redentoristas estão distribuídos e organizados em nove Unidades da Congregação, de norte a sul do país. São aproximadamente 600 Redentoristas, entre padres e irmãos, que se dedicam à pregação das Missões Populares, ao atendimento nos diversos santuários no Brasil, como Aparecida, Trindade, Curitiba, Manaus, Belém do Pará, Porto Alegre e outros.
Os Redentoristas, além de difundirem a devoção a Nossa Senhora Aparecida, propagam a devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, através da Novena Perpétua e atuam em diversas paróquias no interior dos Estados Brasileiros e nas regiões periféricas das grandes cidades.
                Uma atividade muito valorizada pelos Missionários Redentoristas, hoje em dia, são os Meios de Comunicação Social. Atuam através do rádio, da televisão, da Internet e da imprensa escrita. Aliás, Santo Afonso se dedicou muito à escrita, tornando-se um ‘apóstolo da pena’. Seus escritos, 128 obras, foram de grande utilidade pastoral para o Povo de Deus. Mesmo com o passar do tempo, há vários livros de Santo Afonso publicados até os nossos dias. Para citar alguns: “As Glórias de Maria Santíssima”, “Prática de amar a Jesus Cristo”, “Visitas ao Santíssimo Sacramento e à Santíssima Virgem Maria”, “Oração: grande meio de Salvação”. Escreveu sobre espiritualidade e se destacou com ensinamentos e reflexões sobre Teologia Moral.
Santo Afonso Maria de Ligório faleceu no dia 1º de agosto de 1787, aos 91 anos de idade. Foi canonizado em 1836. No dia 23 de março de 1871, foi declarado Doutor da Igreja. Em 1950, o Papa Pio XII o proclamou ‘Patrono dos confessores e professores de Teologia Moral’. Em seus escritos, Santo Afonso procurou demonstrar, sobretudo, a misericórdia de Deus, seu amor infinito em favor de toda humanidade.
Resumo da Espiritualidade Redentorista
                A Espiritualidade Redentorista, apreendida de Santo Alfonso, tem alguns pilares fundamentais da vida Cristã. A começar pelo Presépio, que remete-nos ao Mistério da Encarnação. O Filho de Deus assume a nossa condição humana, que por amor sem medida, abraça o caminho da Cruz, até o Calvário, onde se doa totalmente. Do lado de Jesus correu sangue e água, conforme o Evangelho de João, expressão do amor redentivo de Cristo, que se doa totalmente até a Morte na Cruz.
Os Sacramentos são sinais perenes da graça desse Deus que nos quer todo bem. A Eucaristia se torna o alimento essencial para a caminhada dos filhos de Deus na fidelidade a Cristo. Jesus no Sacrário está, incansavelmente, esperando que os corações se aproximem Dele para amá-Lo. O Sacramento da Reconciliação é o grande convite que Deus nos faz para a conversão. Somos no dia a dia convidados a viver reconciliados com Deus e os irmãos.
O grande meio para a perseverança no projeto que Deus quis para a humanidade é a oração. Por isso, Santo Afonso se ocupou em colar nas mãos do povo métodos simples de oração. Escreveu livros e orações, compôs músicas e fez pinturas para que as pessoas fossem despertadas para corresponderem ao amor infinito de Deus.
Maria, a Mãe de Jesus, ocupa um lugar privilegiado no coração dos Missionários Redentoristas. O motivo é que Maria Santíssima participa ativamente na Obra da Redenção, realizada por seu Filho Jesus. Ela é a primeira discípula e missionária de seu Filho. Torna-se dócil à vontade de Deus Pai, pela Ação do Espírito Santo. No Evangelho temos sinais de que Maria intercede junto a seu Filho em favor de todos nós. Ela é a Mãe do Perpétuo Socorro.
 
Pe. Luís Rodrigues Batista, C.Ss.R
São Paulo, 24 de maio de 2011.       
 
CONFRONTO DA TEOLOGIA DOS OPRIMIDOS COM A FÉ TEOLÓGICA. Por Afonso Cavalcanti
        Padre Orlando parou o jeep, embaixo da figueira, limpou seus óculos e enxugou o rosto com uma pequena toalha. Dirigiu-se para o atelier de Caetano e deparou-se com o artista que acabou de esculpir a estátua de Antonio Silvino. O padre identificou o cangaceiro e rendeu elogios ao artesão. Cumprimentou-o e já foi lhe falando:
     - que bom seria se o senhor esculpisse também os santos, Jesus e Nossa Senhora.
        O artista baixou a cabeça, limpou seu rosto e disse ao Padre, ao levantar-se:
     - Entre aqui comigo e veja neste meu barracão quantas são as imagens que já tenho esculpido.
        As suas esculturas eram para qualquer pessoa entendida tirar o chapéu, pena que ele ainda era desconhecido. O padre aproximou-se de um quadro magnífico: o juízo final e foi logo dizendo sozinho:
     - Meu Deus! Foi daqui que ele tirou aquelas mensagens para o menino Pompeu. Certamente, este homem tem profundo estudo sobre as Escrituras. Olha esta imagem de Nossa Senhora do Leite! Olha o anjo da Guarda, olha o Diabo. O anjo tem braços fortes, asas grandes. O diabo dele é frágil, muito magricela.
        Padre Orlando ficou entusiasmado. Caetano olhava o padre como se não tivesse observando. Ele sabia que o padre era profundo conhecedor das Escrituras, mas ainda continuava defendendo a idéia de que ensinar Teologia é somente para teólogos. Pessoas simples, ingênuas como ele não podia lidar na área. O padre era preconceituoso contra benzimentos vindos de benzedores. Olhou tudo, cobiçou tudo aquilo, principalmente as imagens que representavam o sagrado e pensou que tudo poderia ser posto em um lugar especial em sua paróquia. Depois foi falar com Caetano. O escultor não era assíduo freqüentador de missas nas festas religiosas e nos domingos. Ia vez ou outra. O Padre dirigindo-se a Caetano falou:
     - Quero ter uma conversa séria com o senhor.
        Aquele homem era sensível e percebeu de antemão que receberia broncas do vigário por ter ajudado os meninos da catequese, o que, aliás, já fora informado pelo menino Pompeu do que havia ocorrido. Pompeu, ainda não sabia que o Padre Orlando havia pensado em demitir Matilde, por ela ter permitido aquela apresentação. Percebendo que o vigário estava furioso e não sabendo bem o que dizer, chamou o padre:
     - Vamos para minha casa! Encarnação vai passar um cafezinho novo e a gente faz um café com duas mãos, enquanto proseamos.
        O padre aceitou e logo foi perguntando:
     - O senhor conhece a Sagrada Escritura para querer ensinar sobre o céu e o inferno?
     - Tenho lido um pouco, apesar da dificuldade de minha leitura, respondeu o escultor. Acho que a conheço mais através de inúmeras conversas que tive durante a vida com meus pais, tios e ainda quando freqüentei por longos anos a igreja do Juazeiro do Padinho Cícero. Converso com todo mundo que me visita e tenho o maior prazer de ensinar o que aprendi.
        O padre percebeu que não era um homem qualquer, mas resolveu explorá-lo no campo dos benzimentos e lhe perguntou:
     - O senhor acredita em benzimentos? O senhor já fez algum benzimento?
     - Tenho que lhe dizer a verdade, senhor vigário. Muita gente já me conhece. Muitas vezes fui chamado às pressas para curar de picada de cobra.
     - O que o senhor propriamente faz para curar o infeliz que foi atingido pelas serpentes venenosas: usa algum medicamento, faz simpatia, faz longas orações? O senhor deve saber que se praticar qualquer uma dessas medidas, pode estar praticando a medicina de forma ilegal ou ainda estar sendo bruxo. A bruxaria é condenada pela Igreja.
     - Não, Padre Orlando. Tenho plena convicção do que faço e tenho por mim que não pratico a medicina ilegal: apenas receito remédios caseiros, através de plantas medicinais e de garrafadas especiais que eu mesmo preparo. As orações que faço são simples e eu as aprendi com meu tio Aprijo, que há muito faleceu. Aquele sim foi um curador e tanto. Curava bicheira de gado, picada de cobra, podia estar quilômetros de distância.
     - Meu Deus! Disse o padre. Que heresia é essa, Caetano. Você agindo assim não pode mais pertencer ao apostolado da oração.
     - Não faço por mal, querido vigário. Não ganho dinheiro com isso e ainda não ganhei nenhuma fama. Para dizer em fama, a única coisa que penso que vai me deixar na história, é meu trabalho de escultor. Sobre benzimentos, esculpi um entalhado de madeira que demonstra o moribundo picado de cobra jararacuçu, quase morto, rodeado por seus sete filhos e esposa. À frente deles chega o benzedor, que humildemente ajoelhado intercede a Deus que livre o doente. Eu já fiz isto dezenas de vezes e não é para me gabar. Graças a Deus e a todos os santos da oração, os enfermos que visitei se salvaram.
     - O senhor poderia repetir a oração para eu ouvir?
     - Prometi para tio Aprijo que esta oração eu somente rezaria diante de um enfermo necessitado. Lembro-me que ele me recomendou para tomar cuidado com a intervenção dos padres e bispos. Dizia ele que se fosse preciso, rezasse a oração ao religioso (padre, bispo e outros), de joelhos, e que eu pedisse ao ouvinte que repetisse a oração comigo. Vou cumprir seu pedido, padre Orlando, caso o senhor reze de joelhos comigo.
     - Minha maior vocação é rezar e rezarei contigo, Caetano.
        Caetano era um homem simples, mas sábio. O padre veio com o intuito de julgar Caetano, de puxar-lhe as orelhas e de proibi-lo da prática do benzimento e de outros ensinamentos que ele achava ser indevidos. Neste dilema, os dois puseram-se de joelhos. Caetano pronunciava uma frase e o padre repetia:
     - São Bento e a água benta. Jesus Cristo no altar.
        E o padre repetiu: ...
     - Pelo rosto desfigurado de Jesus descido da cruz e pelas sete espadas que cravaram o coração de Maria.
        E o padre repetiu e meditou na profundidade da frase.
     - Pelo milagre da transformação da água em vinho, em Canaã da Galiléia, e pela transubstanciação do pão e do vinho, em corpo e sangue de Jesus!
        O padre pronunciou mais forte e encheu seus olhos de lágrimas.
     - Pelos apóstolos Pedro e Paulo, alicerce perene da Igreja, e pela força do batismo cristão que esta vítima (dizia o nome do paciente) recebeu, ordeno:
        O padre acompanhava repetindo com muita fé.
     - que a cura se realize e que os grilhões do mal se distanciem deste cristão.
        Meio engasgado, o padre Orlando cumpriu com sua promessa, a de ser acompanhante de Caetano. Terminada a oração, os dois se puseram em pé. Caetano diz ao padre que queria ouvir dele as considerações sobre a oração.
     - Não há o que dizer, Caetano. Penso que seu erro é o de acreditar que você tem poderes sobrenaturais.
     - Não penso assim, querido vigário! Sou apenas um simples instrumento nas mãos de Deus. O senhor já parou para pensar o quão proveitoso é salvar uma pessoa da morte. Imagina o senhor que um paciente picado de cobra esteja em pecados mortais. Se ele morre, vai parar no inferno. Se Deus, por meu intermédio, proferir para ele a cura, acredito que através da sobrevivência, aquele sujeito vai pensar sobre seus pecados, irá à confissão e arrepender-se-á. Assumi um compromisso e vou continuá-lo.
        O vigário baixou a cabeça. Tomou o café que fora servido por Dona Encarnação, esposa de Caetano, agradeceu a acolhida e partiu para a casa canônica pensativo.
Autor:Afonso de Souza Cavalcanti (Jandaia)
E-Mail:afonsoc3@hotmail.com
Data de Criação : 2011-01-26
 
CÉU E INFERNO (Por Afonso Cavalcanti)
        As aulas de catequese continuavam sendo ministradas. Matilde anunciou, naquela tarde de 27 de outubro de 1987, que o assunto a ser tratado na 42ª semana de aulas, seria sobre a Graça Santificante e a Graça Atual. Para aqueles meninos, estes títulos pareciam abstratos demais, a não ser que eles fossem gênios mesmo. Gênios ou ingênuos não importa. Matilde também não sabia muito. Sua escolaridade não passava da 4ª série ginasial, de sua época. Era prática, temente a Deus, fervorosa e boa narradora. No palco fazia bem o teatro e seduzia a garotada. Para introduzir sua aula sobre Graça Santificante e Graça Atual, subiu ao palco do salão e lá de cima narrou, com voz forte esta história:
     - Deus é o justo juiz. Ele não se apresenta como nossos pais e nossas mães, que quase sempre nos falam pesado: cobrando nosso comportamento, exigindo pontualidade, obediência, sacrifício, reverência. Sim, a reverência é a palavra certa. Nossos pais ensinaram-nos o hábito de pedir-lhes a bênção, ao nos deitar e ao nos levantar. A pedir: comlicença, para os que se põem à nossa frente e fecham nosso caminho. A dizer: muito obrigado, a algum benefício que nos foi prestado. A suplicar: por favor, para algo que pretendemos. Apesar de eles parecerem mais cobradores, quase sempre, eles querem nosso bem. Nossos pais são justos conosco porque estão nos ensinando, disciplinando-nos para a boa convivência. Deus não está assim presente de carne e osso, como nossos pais. Ele se faz presente de uma forma que nós não o vemos, mas podemos senti-lo. Se pudermos dizer: a benção, meu pai e minha mãe; com licença meus queridos; obrigado mesmo, estudantes; por favor, façam a tarefa de aula! Tudo isto fazemos porque possuímos força física, saúde, boa vontade. A isto chamamos de energia vital que recebemos de Deus que nos criou e nos permite viver. Esta energia é a graça atual, é a vida que Deus nos dá.
        Para aliviar os meninos, Matilde desceu do palco e pôs sobre a mesa uma pequena imagem. Pediu que dois meninos: Alfredo e Francisca viessem dizer de quem era aquela imagem. Ali chegando, os dois olharam atentamente e disseram:
     - É São João Batista. Aquele que batizou Jesus no Rio Jordão.
        A catequista pediu aplausos para os dois, pois acertaram a questão. Em seguida pediu que Alfredo levantasse a imagem para que todos pudessem dizer o que viam nela. Gabriel pediu a palavra para pronunciar o que havia ouvido de seu pai:
     - Meu pai me disse que São João Batista é o precursor de Jesus. Quando a mãe de Jesus foi visitar Isabel que estava grávida de João, o filho estremeceu na barriga dela, como se já reconhecesse que Jesus vinha ao mundo através de Maria. Que Maria era uma mulher especial. Por ela, Jesus viria ao mundo e por ela seria educado religiosamente. Matilde pergunta:
     - Onde é que fica a história de São João? Qual é a importância de São João Batista na vida de Jesus?
        Naquela sala de catequese havia um João e ele sentiu que era sua hora de falar, afinal, era muito devoto de São João. Inclusive tinha em sua cabeceira uma imagem de São João Batista e já colecionava algumas estórias sobre ele. João falou:
- São João Batista era primo de Jesus. Foi precursor porque começou sua vida pública antes que Jesus e foi ele que o batizou, no Rio Jordão. Nas histórias que tenho lido, observa-se que no momento em que Jesus foi batizado, sobre ele veio uma voz do alto que dizia: “Este é meu filho muito amado. Sobre ele ponho a minha complacência”. Meu pai me ensinou que Jesus recebeu naquele momento a graça santificante. O batismo trás, ao batizado, uma nova ordem de vida: torna-o cristão, ou seja, seguidor de Jesus. Pelo batismo, o cristão recebe uma nova energia. Para completar, quero dizer que São João Batista tinha muita fé em Deus. Denunciou a vida errada que Herodes levava e por isso foi morto decapitado, a pedido de Salomé que era enteada de Herodes.
        Novamente a professora pediu aplausos aos que falaram. Para frisar bem, pediu que todos se colocassem em pé e juntos repetissem com ela:
     - Eu fui batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito santo! Recebi de Deus a graça santificante. Da mesma forma como Jesus tornou-se missionário da verdade e caminho para Deus, também eu (... e ela pediu que cada um dissesse seu nome) recebi a graça santificante.Esta graça é um dom que Deus dá àqueles que ele chama e acolhe.
        A aula foi encerrada e Matilde pediu aos meninos:
     - Na próxima semana, quem puder, traga historinhas para que possamos ouvir.
        Tudo correu às mil maravilhas e o dia para a nova aula de catequese chegou. Os interessados em participar da aula, contando estórias, entregaram seus escritos e Matilde selecionou duas estórias interessantes que são de autoria de Clarice, que teve ajuda de sua Tia para escrevê-la, e de Pompeu, que contou com a participação de Caetano, contador de histórias, da Gleba Humaitá, onde ele mora. A professora recordou sobre a graça santificante e a graça atual, matéria da aula anterior, e prosseguiu chamando ao palco os dois meninos, para que se preparassem e expusessem suas estórias, na próxima semana. A catequista ordenou que Clarice preparasse bem sua estória. Ela seria a primeira a narrar. Em seguida pediu a Pompeu como ele gostaria de apresentar seu escrito, já que sua estória era longa. Pompeu combinou com a Professora e chamou quatro colegas para ajudá-lo a narrá-la. Chamou-os e dividiu seus papéis:
     - Horácio, por favor, você ficará sentado na 1ª carteira e seu papel será o de representar o advogado; Teresa, com sua devida licença, sua tarefa será a de representar a professora que ensina; Marco Aurélio, serei grato, se você puder exercer o papel do padre; Juliano, sua missão é um pouco mais difícil, pois seu papel é o do ateu, o cético que não acredita que Deus existe. De frente para eles quatro, colocaremos outros dois personagens: o Anjo da Guarda e o Diabo. Em nosso palco eles não aparecerão em carne e osso, mas serão representados por duas palavrinhas: o Bem – para o Anjo da Guarda – e o Mal – para o Diabo. O palco será assim composto.
        Na próxima aula, a professora lembrou o feriado de finados e disse que o assunto a ser tratado nesta aula tem a ver com o juízo final. Para introduzir a aula, disse Matilde:
     - Primeiramente ouviremos a estória de Clarice, que é uma narrativa interessante, embora mais curta. Em seguida ouviremos o relato de Pompeu, algo mais longo.
        Acredita-se que foi a primeira vez que a menina Clarice, com nove anos de idade, subiu ao palco para falar, ler a estória contada por sua Tia Madalena. Sua voz meio aguda, mas audível, foi ouvida com profundo silêncio:
     - Minha Tia Madalena me ajudou a escrever a estória. Demorou um pouco para eu entendê-la. Escrevi-a porque achei interessante. Contou minha tia que o céu e o inferno existem e aqueles que andarem certinhos na vida irão para o céu. Os maus terão que sofrer os castigos do inferno. Achei interessante que minha tia me disse que o julgamento para quem vai para o céu ou para o inferno é feito da seguinte forma: ao morrermos, nossa alma se apresenta diante de um grande tribunal, onde estão milhares de outras almas, anjos, Deus, o Diabo e o Anjo da Guarda. Os dois últimos se falam. Deus determina que o diabo raspe uma de suas unhas com uma ferramenta bem afiada. As raspas de sua unha serão colocadas no primeiro prato de uma balança que está ali no tribunal. Em seguida, por ordem de Deus, o Anjo da Guarda leva a alma e a coloca no outro prato. Tudo estará pronto para se obter o resultado final. Se a alma pesar mais que as raspas da unha do Demo, então ela será condenada. O peso a mais significa que ela morreu com pecado mortal e perdeu a graça santificante. Se a alma pesar menos, é sinal que no momento da morte, ela era portadora da graça atual, ou seja, ela continuava fazendo uso do poder de seu batismo.
        Matilde pede aplausos e disse à Clarice:
     - Sua estória é interessante e vai ficar arquivada. Por favor, Clarice: agradeça sua tia que sempre ensina mensagens agradáveis. E, para completar nossa aula de hoje, ouviremos a estória de Pompeu que é uma estória mais completa e que inclusive merece até mesmo trazer ao palco os quatro personagens que Pompeu escreveu, ao ouvir o conto: Falando sobre o julgamento final, do contador de histórias da Gleba Humaitá. Pompeu, o que você relatou é magnífico, é surpreendente para um menino de sua idade.
        Pompeu, menino de dez anos de idade, vem ao palco e pede que a professora permita que ele chame quatro colegas que estiveram com ele no momento em que Caetano narrou sobre o julgamento final. Matilde consentiu. Pompeu solicitou que fossem colocadas no palco seis carteiras escolares.  Quatro cadeiras foram postas enfileiradas, de frente para as outras duas. O menino agradeceu os contra regras e passou a chamar os personagens que iriam sentar-se nelas, conforme combinou na semana anterior, para a narrativa. Foi falando:
     - Horácio fará o papel do advogado; Teresa irá representar a professora que ensina; Marco Aurélio será o padre; Juliano desempenhará o papel do ateu, do cético que não acreditava que Deus existe. De frente para eles quatro, as duas carteiras serão ocupadas por duas palavrinhas: o Bem – para o Anjo da Guarda – e o Mal – para o Diabo.
        Cada personagem se posiciona da melhor forma possível. Matilde vai até eles e os anima a que tenham boa postura no momento em que lerão os textos a eles conferidos. Pompeu, na posição de narrador e chefe da equipe, com muita seriedade, uma espécie de líder carismático, determina:
     - Horácio, é sua vez, você está diante do Tribunal da Vida. Presta contas de todo o bem que você fez.
        Emenegildo é o nome do advogado, que será representado por Horácio. Esteve presente em mais de 10.000 excelentes processos. Ganhou uma bela fortuna. Teve seu nome anunciado nos melhores meios de comunicação de seu País. Sabia falar bem, embora, muitas vezes, usou o palco dos tribunais para defender causas injustas, devido ao bom pagamento que obtinha. Foi vencedor, foi brilhante, mas morreu. Agora é sua vez de ouvir o que a voz de sua consciência trás escrito. Horácio encarna a energia do advogado brilhante e lê aos presentes:
     - Fiz um juramento, quando me bacharelei em Direito, em São Paulo, de que minha função seria a de resolver conflitos. Nos primeiros anos de minha vida de advogado, percebi que resolver conflitos seria ajustar as dificuldades das duas partes que vêm à audiência. Verifiquei que se assim eu continuasse procedendo, seria um profissional mal sucedido, um pobretão qualquer. Resolvi mudar meu procedimento e a partir daí, apenas aceitei defender causas que me dessem divisas – aumentassem minhas economias -, que fizessem meu nome e me dessem status de Doutor Emenegildo. Minha vida foi longa, pude advogar durante 52 anos e deixei meu escritório com oito colegas que também são bem sucedidos. Em síntese, fazer o bem, para mim, foi ganhar dinheiro, comprar bens, viajar, festejar com amigos e familiares. Não tive tempo para outra coisa: praticar a caridade, participar da religião, ensinar o Direito.
        Horácio guarda seu papel, abaixa sua cabeça, na eminência de que sua consciência agora foi iluminada por uma luz muito forte que reprovou seu discurso do que seria fazer o bem. Para ele, fazer o bem é ganhar muito dinheiro; é dar ganho de causa aos mais fortes, aos que podem economicamente; é fazer festas e mais festas; é viver em orgias. O silêncio toma conta das pequenas consciências, mas obriga a Matilde falar que a profissão de advogado é necessária e que nem todos os bacharéis do Direito agem de forma tacanha, como o falecido Dr. Emenegildo. Pompeu anuncia:
     - Emenegildo falou bem, através de Horácio. Pelo visto, percebe-se que apesar de ter sido brilhante nas defesas, sua vida foi em vão. Não cumpriu com o seu juramento: solucionar os conflitos sociais. Agora é a vez de Teresa tomar consciência se seu dever foi cumprido ou não. Teresa, garota de apenas nove anos, orgulha-se de ser personagem no tribunal do julgamento final. Apresenta-se consciente de seus fracassos, enquanto professora:
     - Meu nome é Marta, vivi pouco tempo de magistério. Participei do MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização, quando eu completei 17 anos. Freqüentei o Curso de madureza ginasial e em menos de um ano e meio me formei. Em seguida, fiz Logus II e fui diplomada professora. Naquela formatura fizemos o juramento de ensinar. A missão que assumíamos era como se fosse um sacerdócio. Sabíamos que não iríamos ganhar muito dinheiro. A grande chance, a maior chance seria a de ser efetivada numa das redes públicas dos municípios ou do Estado. Tive a sorte: por ajuda de meu diretor, ingressei e fiz o Curso de Letras. Com ele, tornei-me efetiva do Estado do Paraná, já com 26 anos de idade. Percebi que a Secretaria de Estado da Educação impunha uma política que os alunos não podiam reprovar. Todos deveriam ser aprovados, sabendo ou não. Nunca concordei com esta teoria e a cada vez que os meus orientadores queriam impor esta nota, eu sempre refutei e defendi a bandeira: por uma escola pública de qualidade, com jornada de 8 horas, com no máximo 25 alunos por turma. Defendi a leitura, a pesquisa, o ensino. Apliquei o que defendi em minha vida. Morri com 38 anos de idade. Escrevi 6 livros de literatura infantil, inclusive o mais importante que sempre achei foi “A leitura de minha vida – um constante exame de consciência”. Consegui publicá-los, graças à ajuda de amigos, mas foram pequenas tiragens. Nunca quis vendê-los. Distribui-os aos meus pequenos leitores. De bens materiais, apenas adquiri uma chácara que deixei para minha mãe, minha única companhia.
        Lá no fundo da sala, quebrando o silêncio, ouviu-se um gracejo:
-                                Coitada! Não conseguiu nem se casar.
        Pompeu volta ao palco e fala em nome do bem e do mal:
     - Acredito que Marta percebeu que acordou tarde para o conhecimento acadêmico. Quando começou, não parou mais de produzir. Dedicou sua vida ao ensino e à aprendizagem. Teve uma postura crítica. Assumiu uma posição: a de corrigir, de não aceitar a imposição do Estado perverso que diz que todos os alunos sejam aprovados, sabendo ou não. Marta foi contra o Estado paternalista que defende a cesta básica, o salário mínimo, o jeitinho brasileiro. Morreu muito nova, nem sequer se casou, pois dedicou sua vida à educação de crianças e jovens. Seu nome pode ser escrito com letras fortes. 
        Após ter feito a turma refletir de que Marta foi exemplar e quem é exemplar merece o céu, Pompeu falou que em seguida seria a vez de Marco Aurélio, que fará o papel do padre. Com onze anos de idade, Marco Aurélio é um menino esperto, porém se simpatiza muito com todos os colegas. Pompeu passou para ele o direito de falar e o menino se posicionando, leu a mensagem escrita, incorporando-se ao personagem do Padre Fidelis que morreu vítima de uma cirrose hepática:
     - Percebo que as pessoas de minha paróquia ficarão mais escandalizadas ainda, quando estiver de posse de minha ficha médica. Que a minha “causa mortis” foi bebida demais e que não fui um padre exemplar. Por diversas vezes falei aos fiéis que me acompanharam de que nossas ações ficarão escritas no livro da vida. Agora posso abrir as páginas de meu livro e lendo a primeira, percebo o juramento que fiz no dia de minha ordenação sacerdotal. Prometi a Deus obediência, pobreza e castidade. Jurei paciência, humildade, estudo, compreensão, misericórdia e perdão. Preparei lindos sermões, mas eu os fiz apenas da boca para fora. Fui cobrador do dever, mas faltei muito com ele. Dei muitos conselhos, fui taxativo em proibições que eu também não cumpri. Ostentei o luxo, acumulei riquezas, busquei aprendizados, senti prazer em poder desfrutar do status clerical, fui cobiçado por lindas mulheres e por elas me seduzi. Eu não esperava que a doença do stresse, da solidão me apanhasse tão cedo. Eu pensava que na velhice, afastar-me-ia do mundo material e daí ficaria mais fácil para eu cumprir os votos que jurei como religioso. Em lugar da humildade, da paciência, da compenetração, da oração, do jejum e doação de mim mesmo, busquei o conforto, a acomodação, a preguiça, a avareza. A morte me pegou de surpresa, aos 42 anos de idade. E quanta gente esteve em meu funeral e que chorou minha morte e que levou flores em meu túmulo. Minha vida parece ter sido em vão, mas mesmo assim minha consciência cristã ainda espera pela misericórdia de Deus. Percebo ainda que no momento de minha morte pedi perdão a Deus e me arrependi.Que ele tenha pena de mim, pelo pouco bem que ainda fiz!
        Marta ficou triste com esta leitura e falou com Pompeu, dizendo-lhe:
     - Caetano, seu contador de estórias, pegou muito pesado. Da forma como ele falou do Padre Fidelis, isto escandaliza o povo católico.
        Pompeu ouviu a catequista e respondeu-lhe:
     - Não, professora. Trata-se de um exame de consciência bem feito. O padre teve consciência de seus erros e com certeza arrependeu-se de seus pecados, mesmo na hora de sua morte. Caetano nos disse que as pessoas que têm o costume de fazer o bem, de pedir desculpas, de rezar, de pagar em dia suas contas, estas vivem na presença de Deus e ele não as desampara, na hora de sua morte, mesmo que elas caiam em pecado. As pessoas que praticam o mal, não rezam constantemente e não refletem sobre o que é o certo e o errado, estes não pensam em Deus e também não irão se lembrar dele na hora da morte. Não é escândalo pensar assim. Pelo contrário: é bom sinal perceber os erros e corrigi-los.
        Marta ficou surpresa com a sabedoria de Pompeu e viu nele um menino especial. Pompeu, porém, olhando para Juliano, dirigiu-lhe a palavra e lhe pediu:
     - Juliano, seu texto é o mais difícil que Caetano me ajudou escrever, primeiro porque o personagem que está aí, o Calípso, é ateu, é cético. Personagem muito difícil de entendê-lo, embora no fundo, parece ter sido um sujeito bom, cumpridor de seus deveres. Por favor, fale de seu personagem.
        Com dez anos de idade, Juliano era um tanto gago, mas sentiu-se orgulhoso de também poder representar naquele palco. O menino soltou a voz e se transformou no personagem de Calípso. Leu com voz forte e corajosa:
     - Minha vida sempre foi pautada em fazer o bem, em fugir das discussões que geravam polêmicas e provocavam divisões. Defendi uma posição que eu vivi, a de acreditar na existência somente daquilo que podemos comprovar. O imaginário, ou como muita gente diz: o que se alcança pela fé, esta defesa eu nunca fiz. Meus princípios sempre tiveram base na matéria, na busca constante e incessante do prazer, mas com bom raciocínio e equilíbrio. Ocupei minha vida em ser criativo: em acolher quem estava desempregado, em dar conselho a quem estava desesperado, em apoiar planos sociais, políticos e econômicos que geravam divisas, aumentavam riquezas e principalmente que defendessem a natureza. Desde que me conheci por gente, percebi a formação de uma série de instituições que se intrometeram na defesa do bem, segundo elas. Fui convidado por muitas delas para participar. Por algumas delas, fui insultado e combatido em minhas idéias. Na vida fui radical. Minhas defesas foram: a) defendi que o melhor caminho é o do conhecimento, de que as divisões da sociedade são frutos da ignorância; b) apesar de eu ter possuído propriedades, fui a favor de que elas devem ser socializadas e por isso gerei empregos naquelas que possui e ensinei as pessoas a trabalharem e a se libertarem do jugo de seus patrões; c) religiões, na forma como percebi e conheci, estão muito distantes de alcançar o “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei” e do “Fazei aos homens tudo aquilo que vós desejais que eles vos façam”. Desculpem-me os senhores: muitas religiões dizem que ensinam. Na verdade, se ensinassem, os seus seguidores se libertariam e deixariam de ser dependentes. Como a dependência tem aumentado, digo que as religiões têm causado muito mais alienação do que independência. Percebo que falo o que sinto e não mais tenho à minha frente aqueles que refutam minhas idéias. Sem dúvida, começo a crer que estou diante de um grande tribunal, coisa que eu jamais pensei que houvesse. Posso afirmar que mesmo contrariando a muitos, algumas coisas me foram úteis na vida. Vou confessar duas delas apenas: 1. Meu avô era católico. Levou-me à igreja por muitas vezes, até meus dezesseis anos de idade. Continuei amigo confidencial dele, até sua morte, há pouco, quando fiz 40 anos. Chamando minha atenção, vovô me disse: “Calípso, você nega que tenha o céu e o inferno, mesmo negando, faça tudo correto, como se eles existissem. A vida de sacrifício como eu lhe ensinei faz muito bem e educa a alma que não lhe pertence”. 2. Em meus estudos aprendi com os sábios que o sujeito ideal é aquele que tem sempre em mente uma metodologia e que nada faz sem meditar sobre esta metodologia. Meu método não foi o de negar o que os outros diziam, mas sim o de afirmar aquilo que sempre tive como certo, como possível e adequado.
        Juliano terminou a leitura, os meninos quase nada entenderam. Matilde e Pompeu vêm à frente. A professora pede que Pompeu conclua o que ele entendeu sobre Calípso. Pompeu falou o que ele estava ansioso para dizer:
     - Fiquei encantado com este ateu. Apesar de ser ateu, parece que foi muito melhor do que os outros. Superou até mesmo a professora Marta, a Senhora não concorda Dona Matilde?
        Matilde ficou apreensiva sobre o que falaria, afinal, era seu papel combater a todos e a tudo o que enfrentava a Igreja Católica. As estórias ali contadas nos puseram em outra dimensão da vida, nos arremeteram para a eternidade, para o juízo final. Matilde disse aos seus alunos:
     - Vamos encerrar a aula de hoje. Vou levar estes textos e na próxima aula, a gente conversa um pouco mais sobre eles.
        Matilde, durante a semana, veio conversar com o Padre Vigário e apresentou a ele as estórias que os meninos leram no palco. O padre ficou surpreso, mas caiu-lhe o queixo. Quis bronquear com Matilde:
     - Como a Senhora deixa suas aulas caminharem nesta direção, de tal forma a apresentar a vida de um padre escandaloso e ainda de afirmar que um ateu é merecedor do céu. Vá lá, que o advogado apresentado mereça o inferno, isto sim merece. Meu Deus, em que mundo nós estamos! Eu pensava que a catequese ia bem, que os meninos estariam sendo conduzidos com aquelas aulas água com açúcar, nada de dificuldades. Esta outra estória contada pela tia de Clarice, a Madalena, ainda vai lá. Minha avó um dia ma contou. É besteira, mas ainda interessa. Esta outra do Caetano é de arrepiar os cabelos. Vou à Gleba Humaitá, visitar o Caetano, em seu atelier de obras de arte. De onde será que o Caetano aprendeu tanto? Será Matilde que eu, Padre, com quase 60 anos, ainda não aprendi o bastante ou será que tudo o que me ensinaram, e o que sempre corri atrás, não passam de um equívoco? Na semana que vem a gente conversa de novo.
        Matilde, pensando nas palavras do vigário, deu uma aulinha água com açúcar para seus alunos, fez orações corriqueiras, aconselhou os meninos e despediu-os com beijos e abraços.  No fundo, a professora ficou muito preocupada com tudo o que os meninos relataram e lá em casa, contou tudo para sua mãe.
Autor:Afonso de Souza Cavalcanti (Jandaia)
E-Mail:afonsoc3@hotmail.com
Data de Criação : 2011-01-26
 
Como fazer o exame de consciência?
Como fazer o exame de consciência?
Exame de consciência é um olhar para dentro de si, uma análise de tudo o que se fez. Faz bem descobrir as boas ações, perceber o valor das grandes e pequenas coisas que fizemos. Faz muito bem descobrir também os erros, as falhas, as vezes que não conseguimos expressar-nos com bondade. Um momento que serve para agradecer a Deus e se valorizar mais. Outro olhar é uma oportunidade de encontrar o caminho certo, corrigindo erros e faltas.
Temos um costume de fazer exame de consciência para ver só os erros, mas é bom nos habituarmos a ver aquilo que fizemos de bom durante o dia. Quem não se analisa, não se conhece, não tem chance de mudar.
O silêncio e a concentração vão-nos ajudar a percebermos nosso interior, vão-nos ajudar na avaliação e nos fortalecerão nos princípios que devem orientar nossa vida.
A consciência é um santuário onde ninguém entra e só Deus conhece; é nesse íntimo que a pessoa encontra-se consigo, encontra-se com Deus e é onde Deus fala. Essa consciência pode ser bem-formada ou malformada. Será bem-formada quando se guiar pelos valores evangélicos, pelos valores da lei natural que Deus gravou dentro de cada um. A consciência é a regra última do agir humano. Ninguém a substitui.
É por esse respeito à consciência de cada pessoa que se aboliram as tais listas de pecado. A pessoa lia aquela lista e não se dava ao trabalho de analisar, avaliar seus atos. Era prático mas não produzia frutos, pois nem sequer via-se porque errou, qual era seu grau de conhecimento e liberdade para fazer o que fez.
Cada um precisa aprender ou descobrir onde estão seus erros e o porquê desses erros ou pecados. Usar como critério aquilo que os outros falaram é não querer refletir e perceber onde se apoiam os erros ou os acertos. Saber por que se erra já é meio caminho andado para se corrigir. Por isso facilmente liga-se o exame de consciência à confissão, mas essa deve ser uma prática para todos os dias: passar o dia a limpo para planejar o que vem em frente.
Sabe-se que a consciência fala dentro da gente e ninguém amordaça a própria consciência. É necessário muito cuidado para não se criar no coração a insensibilidade que impeça de ouvir a voz de sua própria consciência.
Um trabalho de auto-análise pode tornar qualquer pessoa bem mais delicada, sensível. Parece que tudo depende de uma educação de si mesmo. Quanto mais perto de Deus, mais podemos perceber nossos erros e faltas. Não se pode cultivar uma consciência doentia; quem perceber desvios deve procurar um confessor que oriente ou uma terapia que ajude a trabalhar a si mesmo.
Pe. Hélio Libardi, C.Ss.R. (+)
Autor:Pe. Hélio Libardi
E-Mail:heliolibard@yahoo.com
Data de Criação : 2007-10-24
Riquezas de vocações
Deus é um Deus que chama. E chama para fazer alguém participante de sua vida e de sua missão. A história bíblica e a história da Igreja são uma seqüência ininterrupta de chamados. 

Quando Deus chama, sempre envia. Ninguém é apenas chamado para ouvir. É chamado para agir. E agir com o próprio Deus que quer a salvação e a construção permanente do reino.

Abrindo algumas páginas da bíblia, podemos ver: Deus chama Abraão para ser pai de uma multidão de povos... Deus chama Moisés para ser o condutor do povo eleito... Deus chama os profetas para encarregá-los de transmitir suas mensagens... Deus chama os apóstolos para serem enviados a continuar a missão de Jesus... Deus chamou ao longo da história e continua chamando. A história da Igreja é uma história de vocações. Se faltam vocações na época atual, não é porque Deus não chama. Creio que na agitação de um mundo moderno cheio de propostas ilusórias, faz com que muitos ouvidos fiquem impedidos de ouvir a voz de um Deus que fala no silêncio, na intimidade, no recinto mais profundo da pessoa. 
Deus não força a porta do coração de ninguém. Bate! Convida! Oferece! Propõe! Chama e aguarda uma resposta pessoal, madura, consciente. Uma resposta que envolva não apenas uns momentos mas a vida inteira. Não apenas o indivíduo, mas a comunidade. Não apenas o tempo, mas a infinito. Não apenas cenas isoladas, mas o conjunto grandioso da construção do reino.
Autor:Ir. Domingos Vasconcelos, C.Ss.R.
E-Mail:basilica@basilica.com.br
Data de Criação : 2007-09-14
 
Os cegos de hoje.
 
 
A leitura do Evangelho Mc 10,46-52, mostra a cura de um cego. Mas quem são os cegos hoje em dia? Quem são aqueles que não conseguem enxergar? Você pode participar ativamente dos trabalhos da Igreja, em alguma pastoral ou movimento, pode saber rezar, mas sabes orar? É claro que para o seu lugar no céu e no reino de Deus, trabalhos voluntários e pastorais são essenciais, mas, sabes entregar de coração? Já sentiu alguma vez, de verdade, seu coração arder mais forte e Deus realmente te tocar? Sabe por em prática o amor de Deus? Já encarou problemas árduos com toda fé? Se ainda não, é porque precisa aprender a realmente enxergar. Seus olhos estão tapados de uma maneira que você não consegue explicar. Pois você aprendeu de uma forma que não consegue mais elevar isso, não consegue buscar mais. Analise o que fez, o que anda fazendo e se pergunte: - Basta? Posso fazer mais? Deus te chama, e quando ele chama, ele quer ver você trilhando. Ele tem pressa, mas é paciente. Tem pressa mas espera. Você faz o quê? Se acha que faz o bastante, talvez em seus problemas, Deus te faz uma provação e vê se você realmente consegue carregar a tua cruz. Abra seus olhos, tente enxergar uma vida nova, uma nova estrada onde você caminha, que olhando para trás você pode ver alguns erros, mas se você passar a enxergar agora, os erros passados serão passados se você pedir a misericórdia de Deus. Ele vai tirando seus pecados um por um, até você se renovar, se transformar. Se quiser. Ele quer, então, faça a vontade Dele. Deixe que ele entre em seu coração, queira ver e entender o Reino. Claro que certas coisas, é mistério da sua fé, mas entre no Reino do Pai com vontade, com amor, sem medo, com os olhos abertos. E passe a segui-Lo, como discípulo. Pois Ele te ama, e não te desamparará!
Autor:Felipe Coura - Basílica de São Geraldo.
E-Mail:felipe@basilica.com.br
Data de Criação : 2007-09-14